sábado, 2 de agosto de 2008

Girls Gone Shopping

Nós ficamos duas semanas nesse apartamento temporário que tinha apenas um cômodo, uma cama e um mini edredom. No início eu fazia piadas do tipo “ah se a gente suja a cozinha, automaticamente a gente suja a sala de jantar, a sala de TV e o quarto, né roomie? He-he-he Mas nos últimos dias, eu já não agüentava mais. Principalmente porque se nós cozinhássemos um macarrão, nós teríamos que sentir esse cheiro durante dois dias. (E todo mundo sabe que cheiro de comida na casa é um horror ;) Mas enfim o grande dia chegou e nós nos mudamos. A ginástica com a mala gigante rendeu mais um milhão de risadas, mas graças a Deus o Naresh estava com a gente pra me ajudar.

No dia que assinamos o contrato, descobrimos que o nosso vizinho na verdade é filho da dona do apartamento, Mariza. Mariza é uma senhora de pouco menos de 60 anos, que aparentemente tem muito dinheiro. Ela comprou dois apartamentos, porta com porta, nesse prédio que tem dois apartamentos por andar. Ela deu um para o filho e um para a filha e nós estamos alugando o apartamento da filha, enquanto que o filho, recém-casado, vive no presente da mamãe. Mariza é muito simpática, disse que sentiu uma boa energia da gente, apesar de sermos brasileiras. O ‘apesar’ existe porque aparentemente ela teve uma péssima experiência alugando um dos imóveis dela para um paulista, que fazia festas todos os dias e usava drogas, a ponto da polícia semanalmente ter que bater na porta do infeliz. Então Mariza estava muito preocupada pensando que todos os brasileiros usam drogas e fazem festa todos os dias. Eu respondi pra ela que nem todos são assim, só os paulistas. (Eu adoro fazer essa piada. Sempre que alguém me pergunta ou comenta algo de ruim dos brasileiros, eu acho uma forma de jogar a culpa nos paulistas).

Bom, nosso apartamento é ótimo. Ele fica em Lês Corts, que é um bairro familiar sem muitos restaurantes e bares, mas que tem boas opções de transporte público, muitos mercados e é relativamente perto das nossas escolas. A gente ta meio longe do resto dos amiguinhos, mas acho que quando as aulas começarem, no final de agosto, eu não vou me importar muito com isso. O prédio é relativamente novo, os móveis estão impecáveis, nós temos ar-condicionado central e aquecedor, um banheiro pra cada uma. É puro luxo. Mas os objetos de decoração... MEU DEUS! Parece que a Mariza pegou todos os presentes horrorosos que ela ganhou durante a vida dela toda e largou aqui. Na minha opinião, o campeão é um conjunto de sopeira com seis copinhos. Eles são marrons e em cada item tem a carinha de um cachorro de raças diferentes. A raça da sopeira é um bulldog. O que a Bia mais odiava era a maga com a bola de cristal, um abajur com uma mulher toda negra e a luz fica numa bola branca redonda. Bom, a Bia odiava, assim no passado mesmo, porque logo no primeiro dia a gente resolveu fazer um armário com todas essas coisas horrorosas, esconder tudo lá dentro e colocar uma placa “não abra se você tem problemas do coração”. Pois bem, começamos a esconder tudo. Chegou a hora da maga, a Bia pega a bruxa pelo corpo e ela cai no chão!!! Bateu um desespero momentâneo, mas eu dei uma colada com superbonder e agora a gente só precisa encontrar a Benfica de Barcelona pra comprar a bola de cristal. Nós temos um ano pra isso, acho que vai ser tranqüilo.

Outro aspecto bom do nosso apartamento são os quartos. Os dois são grandes. Eu, voluntariamente, fiquei com o menor sem o banheiro, porque eu achei que a suíte seria mais difícil pra conseguir remanejar os móveis e colocar uma mesa pra estudar como eu queria. A suíte tem uma cama king size que é tipo um elefante branco, sabe? Além disso, eu sou acostumada a atravessar um corredor pra ir ao banheiro e a Bia não. Enfim, assim que nos mudamos, tirei tudo decorativo que tinha no meu quarto, coloquei o gaveteiro dentro do armário, empurrei a cama pro lado, dei uma mesinha de cabeceira pra Bia e tchanan! Lá estava o espaço da minha mesa. Segunda parte, go shopping.

Ikea merece um parágrafo a parte. Eu nunca tinha ido numa loja daquelas e com certeza eu nunca vi nada parecido na minha vida. Eu podia ficar dias andando naquele lugar, eu poderia gastar milhões de euros, é impressionante. Eles têm TUDO que se possa imaginar. Infelizmente, eu não tenho os milhões de euros e nem espaço pra comprar tudo, mas deu pra fazer uma farrinha. Comprei a minha mesa linda, um gaveteiro, um espelho, roupa de cama, toalha e cabides. A Ikea tem um serviço de entrega e montagem, mas eles cobram por isso e leva uns três dias pra você receber as suas coisas. Nós, brasileiras malandras, contratamos uns chicanos que ficam na porta da loja, que além de serem mais baratos, entregam na hora e te levam até a sua casa junto. O único problema foi que nós tivemos que montar a minha mesa e no meio do processo eu comecei a pensar que qualquer quantia que a ikea cobrasse teria valido a pena. Mas até que agora eu to aqui sentadinha com orgulho de mim mesma por ter montado a mesa e a cadeira.

Um momento que também merece um parágrafo a parte: a saga da Bia pra comprar uma TV. Bom, Bia só dorme ou bêbada ou vendo TV. Toda vez que ela vem me explicar o processo hipnótico que a luz da TV, subindo e descendo, faz com ela, eu quase morro de rir. Mas enfim, Bia quer uma TV, não tem espaço no quarto, não pode colocar um racker na parede, as TVs de LCD são caríssimas, o que fazer? Um dia desses fomos ao Carrefour e já na entrada vimos uma promoção, a solução de todos os problemas: uma TV de plasma 20” por uma bagatela. Bia toda feliz vai pedir que o rapazinho da seção de eletrônicos busque uma daquelas pra ela. Ele volta com a triste noticia que as TVs tinham acabado, MAS que no dia seguinte eles provavelmente receberiam mais. No dia seguinte, ela volta. Já de longe ela vê o stand da promoção, no chão apenas uma caixa e em volta várias pessoas olhando e decidindo se levam ou não levam. Bia então começa a correr, decidida a lutar com unhas e dentes por sua TV, ela se aproxima do stand, empurra as pessoas com numa cena de filme em câmera lenta e agarra a caixa da TV. Mas a guerra não tinha acabado, apenas a primeira batalha, porque quando ela tenta levantar a caixa da TV, ela não consegue porque era muito pesada. “E agora? Será que eu largo a caixa aqui e corro pra pegar um carrinho? Mas se eu largar a caixa, alguém com certeza vai pegar!”. Então, ela junta todas as forças que lhe resta (afinal de contas, a nossa heroína correu e empurrou pessoas), levanta a caixa e leva pra seção de móveis de jardim (a mais próxima do stand) e esconde, isso mesmo, esconde a TV debaixo de uma mesa!!!! Corre pra pegar o carrinho e quando ela volta uma senhora estava sentada na mesa, escolhendo moveis pro jardim. hahaha Essa história é muito boa! Ao mesmo tempo que eu queria estar lá pra ver isso, eu sei que se eu estivesse isso tudo não teria acontecido. Acho que é mais engraçado imaginar como foi. Pra terminar, ela saiu vitoriosa do Carrefour com o seu soninho garantido.

3 comentários:

Anônimo disse...

meu deus, eu que gostaria muito de estar ai para ver a Bia com essa tv nos bracos.acho que tem horas que vcs devem dizer...ai que saudades do papai ou da mamãe, não é? beijos para minhas meninas que estão aprendendo a crescer.

Anônimo disse...

tenho certeza que vocês só vão pensar no lustre da Maga no último mês de aulas.

e, sim, eu localizei a interna dentro dessas milhares de palavras, tá?
hahahahah

Julieta disse...

hahahahah vocês são hilárias!!!